quarta-feira, 9 de junho de 2010

Velado mas continua ali guardado...




Por Maria José Cotrim


Vi uma pesquisa na qual 90% dos entrevistados responderam que não são racistas. Opa. Quase unanimidade! Mas de que racismo estamos falando... para mim isso varia do conceito da palavra que cada um tem...

O Movimento negro luta para que as atitudes de discriminação racial sejam consideradas crime. Algumas já são. Porém discute-se ainda no meio acadêmico qual o critério para considerar crime de racismo.

Poucos consideram discriminação as piadas que existem por aí de esquina a esquina e que reproduzem estereótipos com relação ao negro. Já outros acham que são cruciais na contribuição para a manutenção da discriminação.

O que é para quem passou a infância toda sendo chamada de “Boneca do cão brincar” ouvir esse termo em uma das várias piadinhas que existem e dão apelidos “engraçadinhos” para alguém? É discriminação?

Minha mãe é conhecida na minha cidade apenas por Nega se alguém chamá-la de Maria Aparecida ninguém conhece. Pro popular é Nega. Uma senhora desatenta exita em sempre chamá-la de “Negra” e chega puxar o r para mostrar a diferença do termo. Para minha mãe o tonzinho diferente que a tal senhora quer dar configura discriminação.Será?

Esses dias almoçando o dono do restaurante disse para a garçonete levar o almoço para um senhor negro que estava na sua frente, este por sua vez minutos depois perguntou em voz alta: “Eu pago é pro branquelo ali?”. Quando ele saiu o dono do empreendimento não perdeu a piadinha: “Se fosse eu que chamasse ele de negão poderia até ir preso”, disse.Piadinha de mal gosto?

Particularidades á parte mas que demonstram que a discriminação velada é o que mais tem por aí. Para diagnosticar? É só ter o “negrômetro” ligado. “Não deixe que ninguém te humilhe por uma simples pele que cobre o corpo!”, ouvi esses dias e gostei.

Falar em discriminação parece para muitos algo “fora da realidade”, uma atitude de quem tem mania de perseguição.Mas comigo é diferente: fico de olho vivo. Senso de humor não se confunde com preconceito velado.A questão história ainda está viva para alguns retrógrados que insistem em ignorar a Igualdade Racial. Não agüento discurso pronto e acabado de que não existe preconceito racial.

Já fui barrada em festa de aniversário por ser negra, até hoje sou alvo de piadas por causa do cabelo.... “os cabeças ocas” falarem é normalíssimo. O segredo é se impor. Vesti-se da identidade étnico-racial e não abaixar a cabeça. Eu não abaixo a minha.

Vale citar um grande amigo, professor de história e sociólogo, Luiz Benedito: “Se pinta de preto que você vai sentir na pele”.

Para quem se esconde atrás da prepotência de achar que por um pouco a mais ou menos de melanina é melhor que os outros sugiro uma lavagem celebral. No mais não se iludam, nem se acostumem....eles estão ainda soltos por aí. Denuncie!

3 comentários:

  1. É sempre bom ter um espaço onde podemos falar e fazer a reflexão necessária. Negro em Debate nos permite a isso, não podemos deixar de refletir sobre o que nos redeia,as piadas, os olhares, as atitudes, etc..
    A discriminação não um problema do outro, é meu problema, até quando eu terei que sentar com um amigo para ouvir a piada sobre sogra, negro, português, gordo, Gay.. se assim agirmos estaremos a cada reforçando a discriminação, a xenofobia, a interancia correlata...é necessário que identificarmos o que discriminação, porque sabemos quem é discrinados.

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  2. Maria José Cotrim, boa tarde! O blog "Negro em Debate" é um espaço do exercício da democracia e de pessoas que estão preocupadas com a distribuição de justiça, enquanto tivermos a mídia na mão de meia dúzia de família (Globos da vida, Estadão, Folha de SP, Veja, etc), não seremos um país democrático e justo. Até mais, axé!

    Edson Robson - Carapicuíba - SP.

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