segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mundial de Futebol na África do Sul e o HIV



Por Michel Sidibé*

Enquanto os fãs do futebol do mundo inteiro chegam a África do Sul para torcer pela sua equipe favorita no Campeonato do Mundo de 2010, não devemos perder de vista um hóspede indesejável – o HIV.

Por que é que devemos falar do HIV durante o Mundial?

Por dois motivos. Primeiro, um evento esportivo tão celebrado, como é o Mundial, pode favorecer a propagação do HIV através da combinação do álcool com o sexo inseguro. Segundo, durante os 90 minutos que dura uma partida de futebol cerca de 80 crianças recém nascidas se infectam via transmissão vertical, ou seja, da mãe para o bebê.

Porque temos os meios para deter esta tragédia, temos de agir – Hoje!

Algumas estrelas do futebol e os Embaixadores de Boa Vontade do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids (Unaids), Emanuel Adebayor do Togo e Michael Ballack da Alemanha, uniram forças ao Unaids para lançar uma campanha mundial para prevenir que bebês se infectem.

A campanha visa mobilizar a comunidade futebolística para mostrar o “Cartão Vermelho” à aids e eliminar a transmissão vertical até 2014, quando o Mundial de Futebol será disputado no Brasil.

Até o momento, os capitães de equipes de países, como Austrália, Camarões, Costa do Marfim, França, Gana, Grécia, Nigéria, Paraguai, Sérvia, África do Sul e Uruguai assinaram um apelo comprometendo-se a usar o poder e a divulgação do futebol para criar uma geração livre do HIV.

Sabemos que é possível eliminar a transmissão do HIV de mãe para o filho. Nos países com rendimentos elevados, as taxas de transmissão caíram de 25 por cento para entre um e cinco por cento nos últimos anos, à medida que o teste de HIV em mulheres grávidas, o uso de medicamentos antirretrovirais durante e após o parto, e a contracepção, se tornaram amplamente disponíveis.

Esses sucessos estão agora a ser reproduzidos em países como o Botsuana, Namíbia e Suazilândia.

Mas é necessário fazer mais. Na maior parte da África, apenas 45 por cento das mulheres grávidas soropositivas têm acesso aos medicamentos contra aids para prevenir a transmissão do HIV para os seus recém-nascidos, e apenas 28 por cento das mulheres grávidas são testadas para o HIV. Em muitos países africanos, a pandemia tornou-se a principal causa de morte entre os latentes e as crianças.

Em Moçambique, estima-se que cerca de 149 mil gestantes em 2009 eram soropositivas e 45.8 por cento delas receberam antirretrovirais para a prevenção da transmissão vertical.

Moçambique está se empenhado na eliminação do HIV pediátrico e na implementação de orientações revistas para assegurar a qualidade e a expansão da provisão de serviços.

Têm-se notado progressos na África do Sul, o país anfitrião do Mundial. Nos últimos meses, o Governo sul-africano mostrou uma forte liderança sobre a problemática da aids, com o lançamento em todo o país de uma campanha de testagem e de tratamento do HIV.

No ano que vem, essa campanha pretende proporcionar, gratuitamente e numa base rotineira, o aconselhamento e o teste de HIV para 15 milhões de pessoas, cerca de 2,5 milhões mais que em 2009 – um aumento de seis vezes em apenas dois anos. Igualmente cerca de 1,5 milhão de pessoas receberão terapia antirretroviral até junho de 2011, cerca de um milhão mais que em 2009.

Quanto mais mães conhecerem o seu estado sorológico e quanto maior for o acesso ao tratamento contra aids e à contracepção, maior é a expectativa de que as taxas de transmissão do vírus caiam consideravelmente. Com combinações mais eficazes de antirretrovirais, a África do Sul pode avançar para a eliminação da transmissão vertical.

Se a África do Sul, o país com o maior número de pessoas vivendo com o HIV, puder quebrar a trajetória da epidemia, haverá esperança que outros países participem na divulgação da resposta à doença.

Enquanto a febre do futebol se espalha por todo o mundo, vamos fazer tudo o que pudermos para parar a propagação do HIV. Não temos nenhuma desculpa.

*Michel Sidibé é Diretor Executivo do Unaids

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