quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
A desbotada e o Made in África de “Caras e Bocas”
Por Maria José Cotrim
Quem assiste a novela global Caras e Bocas que em alguns estados, em virtude do horário de verão, passa ás oito horas, no caso do Tocantins pode poupar as idas á espetáculos de comédia. Não tem como não se divertir com as trapalhadas do casal Caco e Aláide que tem no centro da trama uma relação marcada pela diferença de cor.
Caco, um moreno pedaço de mal caminho, vale ressaltar,é chamado pela família de Alaíde de “Made in África”, já a mãe dele apelidou a nora Alaíde de “desbotada”.Os termos fazem alusão á questão da cor, mas não só isso. Entendo que o autor quis mostrar a aceitação ou falta dela entre relacionamentos afetivos de uma forma diferente. Em nada dá para comparar no contexto vivido por Débora Falabela e Lázaro Ramos em "Duas Caras"em que o favelado ganhou o amor da patricinha Donzela.
Não noto em nenhum momento da trama que a implicância vai além dos termos pejorativos. Não sei se vibro ou me preocupo com isso, pois do mesmo jeito que a troca de farpas entre os integrantes da família se manifesta de forma superficial, ela reforça o que existe no consciente social de muitas pessoas.
Quantos casais não já foram impedidos de ficar juntos por causa da cor? Inúmeros! Quando me relacionei com uma pessoa a mãe dele disse que queria netos gêmeos um preto e um branco. “O branco você me dá e fica com o preto”, disse ela certa vez. Velado ou não esse preconceito na formação das famílias ainda é um obstáculo para a sociedade.
Ouvir um companheiro do movimento dizer que ainda é de abismar quando se vê uma loira beijando um homem negro. A questão é cultural e reflete o padrão eurocêntrico ainda existente nas famílias brasileiras. Na relação de Caco e Alaíde é bem explícito a questão cultural ainda imbutida e enraizada e um detalhe: das duas partes!
Não sei até que ponto cada um dos milhares de brasileiros que acompanham a novela levam em consideração os freqüentes “bate-bocas” da trama pela questão racial... nem até que ponto o autor consegue tocar na questão e reproduzir um pouco da realidade.Isso só os Cacos e Alaídes da visa real é que podem dizer!
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