quinta-feira, 22 de outubro de 2009
LUTO NO AFRO REGGAE: de quem é a culpa?
MARIA JOSÉ COTRIM
JORNALISTA
O Afro Reggae está de luto! Um inquérito militar foi aberto para investigar a conduta dos militares na omissão de socorro ao coordenador do grupo Afro Reggae, Evandro João da Silva, 42, que foi assassinado no Centro do Rio, no último domingo (18). Quando comento entre colegas jornalistas a necessidade da igualdade racial em nosso país, sempre dizem que são os próprios negros que são os preconceituosos e que querem uma “supremacia de raças”.
Mas a questão ultrapassa preconceito, discriminação, racismo... São falhas humanas que resultam em perdas de vidas. Não há como não relembrar aquele tempo em que a “escravidão”, uma das maiores falhas humanas da história mundial, resultou na morte de várias pessoas e destruição de famílias inteiras. Um erro que até hoje estamos na luta para consertar. Viajei mesmo em pensamentos quando li a matéria falando que dois policiais erraram primeiro a não dar socorro ao coordenador do Afro Reggae, depois ao liberar os dois suspeitos depois de serem ouvidos.
O comandante geral simplesmente lamentou o erro. Agora imagine se todos os negros do país começássemos a lamentar as mortes causadas nos anos de escravidão? As imagens mostram o reflexo do que acontece todos os dias em nosso país em vários lugares diferentes, mas com um mesmo público alvo: os negros! Os assaltantes levaram o tênis, a jaqueta, o celular e a carteira de Silva, que chegou a lutar com os criminosos, mas acabou baleado. Os pertences não foram devolvidos á família. Denis Leonard Nogueira Bizarro (capitão) e Marcos de Oliveira Sales (cabo), executores do erro, estão detidos mas podem estar em liberdade no sábado, 24.
Mais um capítulo da injustiça de nosso país. Me lembro no final do mês de julho deste ano quando estive na Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg) em Brasília e junto com policiais de todo o país, militantes das causas sociais reivindicaram contra o “extermínio” dos jovens e população negra. Acharam o termo muito forte. Mas o fato é que esse lamentável acontecimento nos leva a refletir sobre as políticas públicas de segurança. Sobre o valor humano dos indivíduos, sobre a atuação da polícia... sobre o papel social de cada um de nós!
E o Afro Reggae tem mais um motivo para continuar com seu trabalho de “investir no potencial dos jovens favelados, levando educação, cultura e arte a territórios marcados pela violência policial e do narcotráfico, com a marca institucional de conseguir criar alternativas de emprego e lazer”, como reza o lema da instituição. Tive a chance de conhecer um dos trabalhos deste grupo cultural... Enquanto muitos vivem na ilusão de estarem protegidos e se protegem blindando os carros e transformando as casas em fortificações cercadas de sistemas de vigilância... o Afro Reggae vem rompendo com os abismos que separam negros e brancos, ricos e pobres, na certeza de que esta é a única alternativa para que se possa construir uma paz duradoura.Silva se foi, mas fica nossa luta! 16 anos não são 16 dias...
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